Se John Wesley é o pai do Metodismo, Susannah é a mãe.
“Meus filhos, tão logo eu tiver sido posta em liberdade, cantem um salmo de louvor a Deus”. O pedido foi feito por Susannah Wesley, momentos antes de ela morrer, no dia 23 de julho de 1742. Dizem que, se John Wesley foi o pai do Metodismo, Susannah foi a mãe. Ela é apontada como a maior influência religiosa do filho, condutor de uma grande obra de avivamento na Inglaterra do século 18.
Filha de uma família de puritanos ingleses, ela aceitou ir para a Igreja Anglicana, onde seu marido Samuel Wesley exercia o ministério de pastor, na pequena paróquia de Epworth, na Inglaterra. Ele era conhecido por não entender o limite – ou a diferença – entre disciplina e controle excessivo. Sua rigidez em relação às ovelhas levou alguns de seu rebanho a odiá-lo. O ápice da perseguição culminou em dois incêndios a sua casa. No segundo, a residência dos Wesley foi totalmente destruída.
A tudo isso Susannah, que foi mãe de 19 filhos, suportou para dar uma boa formação a sua prole. Seu jeito e modo de agir com eles, desde a idade mais tenra, estão registrados principalmente no diário pessoal de John Wesley. Mas é possível conhecer-lhe a história também por biografias que foram feitas por escritores ingleses. Uma das mais conhecidas é The Mother of the Wesleys, de John Kirk, lançado em 1864.
Ela entendia o compromisso da maternidade como a responsabilidade de educar e formar homens e mulheres de Deus. Era a responsável pela alfabetização e evangelização dos próprios filhos. Em sua casa, crianças menores de cinco eram proibidas de aprender a ler e escrever. O objetivo era evitar a canseira de um intelecto que ainda estava se desenvolvendo.
Mas, no dia seguinte ao quinto aniversário, a criança tinha sua aula inaugural. Durante seis horas, recebia ensinamentos suficientes para aprender todo o alfabeto. Na segunda aula, já começava a aprender a decifrar as palavras, utilizando como base o primeiro livro da Bíblia, Gênesis. Seu método, ela garantia, levava seus filhos a aprender a ler e escrever em três meses.
Conta o escritor Mateo Lelièvre, autor da biografia John Wesley – sua vida e obra (Editora Vida), que, certa vez, Samuel disse-lhe: “Acho admirável sua paciência, porque você repetiu a mesma coisa nos ouvidos dessa criança nada menos do que vinte vezes”. Ela respondeu: “Teria perdido o meu tempo, se a tivesse repetido somente dezenove, pois foi só na vigésima vez que cumpri o meu objetivo”.
Mas não era só. Susannah preocupava-se em demasia com a felicidade e realização de seus filhos. Cada um deles tinha uma hora marcada para uma conversa em particular com a matriarca da família, onde ela lhes ouvia os problemas e alegrias da semana. O próprio John Wesley já adulto, em uma das cartas que escreveu a Susannah, pediu que, quando estivesse em casa, fosse recebido em uma destas “audiências”.
Ela também ensinou às crianças a importância de compartilhar o amor de Deus através da evangelização. Durante uma viagem de seu esposo, ela reunia filhos e criados na cozinha de sua casa, nas tardes de domingo para cultos voltados a este assunto. A programação cresceu tanto que os vizinhos pediram para participar, chegando ao número de 200 participantes por reunião.
Um dos assessores de seu marido, preocupado que os cultos domésticos tivessem uma influência negativa no que diz respeito à transmissão das doutrinas anglicanas escreveu uma carta a Samuel pedindo que impedisse Susannah de continuar os encontros. Mas, tendo o relato de sua esposa dos grandes testemunhos gerados naquela iniciativa, ele afirmou que os cultos continuariam. O que viu neles ajudou John Wesley, quando, impedido de pregar nas igrejas, se viu obrigado a transformar muitas casas em locais de adoração.
Um fato, no entanto, fez com que Susannah investisse mais ainda na vida espiritual de sua prole, especialmente o pequeno John. No dia 9 de fevereiro de 1709, um incêndio destruiu totalmente a casa dos Wesleys. Com medo ter esquecido alguma criança em meio às chamas, Susannah tentou entrar na casa por três vezes, mas foi impedida pelo fogo que se alastrava. Do lado de fora, ao contar os filhos, deu fato de John. A pedido de Samuel, todos se ajoelharam para encomendar a Deus a alma do menino, mas ele surgiu na janela do quarto e acabou sendo resgatado por dois vizinhos.
Desde aquele momento, sua mãe piedosa, segundo ela mesma contava, tomou a resolução “de velar com esmero muito especial pela alma de uma criança a quem Deus protegera com tanta misericórdia”. Esforçava-se para que aquele filho seu tivesse bastante consciência de pertencer, corpo, alma e espírito, ao Deus cuja mão paterna o protegera de modo tão evidente.
Foi ela a única responsável por sua educação até os dez anos de idade, quando ele ingressou na Charterhouse, uma renomada escola que se destacava pelos excelentes resultados acadêmicos. Já no Christ Church College, uma das unidades de Oxford onde formou-se em Mestre em Artes, escreveu a sua mãe, mostrando dúvida quanto ao desejo de seguir a carreira pastoral.
Ela lhe respondeu em uma carta que foi, de acordo com relatos pessoais em seu diário, responsável pela busca obstinada de Wesley por uma experiência com Deus. Dizia em um dos trechos: “Peço-lhe encarecidamente que faça um exame rigoroso de sua consciência a fim de descobrir se possui a fé e o arrependimento que são, conforme você bem sabe, as condições indispensáveis para entrarmos em uma aliança com Deus. Se você se encontrar nesse estado de religião, a satisfação de saber disso recompensará amplamente os seus esforços; caso contrário, você terá motivo de derramar lágrimas muito mais amargas que aquelas que a presença de uma tragédia poderia arrancar de você”.
Alguns anos mais tarde, quando o Movimento Metodista estava se espalhando por todo o país, John Wesley se deparou com um sério problema de liderança. Sem pastores anglicanos que aceitassem o desafio de discipular e acompanhar os novos convertidos, ele não tinha confiança em entregar grandes responsabilidades nas mãos de ministros leigos – sem formação teológica acadêmica. Foi sua mãe quem lhe convidou a reparar no trabalho que estes homens faziam e valorizá-los. Ouvindo o conselho materno, ele chegou a uma conclusão que, mais tarde, escreveu em seu diário: “Isso vem do Senhor! Que Ele faça o que lhe pareça bom (…) Atrevo-me a firmar que esses homens sem letras têm a ajuda de Deus para executar a grande obra de livrar almas da morte. Com efeito, na única coisa que professam saber, não se lhes pode taxar de ignorantes”.
Em sua morte, Susannah, que já era viúva, estava cercada por seus filhos. Atendendo a seu pedido, os filhos cantaram um salmo e ficaram apenas com as belas e inesquecíveis lições de sua mãe.
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