sábado, 20 de fevereiro de 2010

Figuras e Linguagem da Bíblia

Hermenêeutica

Para entender melhor a Bíblia é preciso compreender o que são as figuras de linguagem e saber diferencia-las num texto.

Símile
É uma comparação expressa. É o típico emprego das expressões: semelhante ou como.

A ênfase é dada sobre algum ponto de similaridade entre as duas idéias expressas. O Sujeito e a coisa com a qual está sendo comparada são mantidos separados para uma melhor compreensão.

Ex:

"Mas, a quem compararei esta geração? É semelhante aos meninos que, sentados nas praças, clamam aos seus companheiros". Mateus 11.16

Metáfora

É uma comparação não expressa. O sujeito e a coisa com a qual é comparada estão entrelaçados. Apesar da comparação entre o sujeito e a coisa se identificarem como uma só, o autor não quer que sejam vistos como literais.

Na metáfora um objeto é assemelhado ao outro, afirmando ser o outro ou falando de si mesmo como se fosse o outro.

É o típico emprego das expressões dos verbos: Ser e Estar.

Ex:

"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte". Mateus 5.14



A metáfora pode ser dividida em:

- Antropopatismo: atribui a Deus, emoções, paixões e desejos humanos. "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção." Efésios 4.30

- Antropomorfismo: atribui a Deus membros corporais e atividades físicas. "Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos." Tiago 5.4

Há muita metáfora na descrição de como será o céu no livro de Apocalipse como ruas de ouro, fogo que não se apaga e etc.

Provérbios
Segundo Walter C. Kaiser, os provérbios são "ditos concisos, breves, com um pouco de estimulante e uma pitadinha de sal também". De forma geral têm um único ponto de comparação ou princípio de verdade para comunicar um único pensamento ou comparação que o autor tinha em mente. Por isso passam toda a verdade de um tempo em poucas palavras.

Também podem ser como uma parábola ou alegoria comprimidas e, até mesmo, possuindo as características de ambas.

Ex.:

"Disse-lhes Jesus: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; Tudo o que ouvimos teres feito em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra." Lucas 4.23

Parábolas
O vocábulo parábola (paraballw) significa colocar algo ao lado de outra coisa e compará-lo. É uma comparação, uma símile ampliada. A comparação é desenvolvida através de uma narrativa entre dois fatos para explicar o que é desconhecido, conhecido e escondido, sempre visando um fim prático. Era um método comum no Oriente.

A parábola exige, somente, corresponder no seu todo com a verdade central que se pretende ensinar. Através desta historieta contada é fornecida uma lição de moral, mostrando assim, através de um fato real, concreto e vivido, a sua surpreendente tendência.

Ela oculta a verdade para os que têm o coração endurecido e contém detalhes da vida real, constituídos de fatos familiares, como se fossem as molduras de um quadro.

Como os judeus tinham o seu coração endurecido, Jesus falava em parábolas e utilizava verdades para confrontá-los mostrando os seus erros. Por isso o importante de uma parábola é descobrir o propósito contido nela.

Toda parábola contém o significado expresso, seja no início, no meio ou no fim. Mas para entendê-la é preciso conhecer todo o contexto envolvido. Não se pode entendê-la só tentando descobrir os detalhes existentes ou atribuindo-lhes alguns. Enfim, é uma historieta narrada que fornece uma lição moral.

Ex.: Mateus 13; Marcos 4.1-33; Lucas 8.4-15; 15.1-32;

Alegoria
É uma metáfora ampliada, onde a comparação não vem expressa e todo o mais se entrelaça: a história e seu significado, a história e a sua aplicação e traz em seu conteúdo a própria interpretação.

É um uso figurativo, com narrativa fictícia e a aplicação de alguma história ou fato que se admite. Geralmente tem diversos pontos de comparação, não necessariamente concentrados ao redor de um núcleo.

Um bom exemplo é a interpretação de Efésios 6.10-17, analisando cada peça da armadura do cristão descrita como algo para a vida prática, tendo como finalidade deixá-lo totalmente armado.

Prosa e Poesia

Na prosa e na poesia encontra-se muito paralelismo, isto é, duas linhas ou membros do mesmo período, na maior parte. Significa que as coisas correspondem às coisas e as palavras às palavras.



- Paralelismo Sinonímico: quando a mesma idéia é repetida em palavras diferentes. A 2a linha de uma estrofe repete o conteúdo da 1a com palavras diferentes. Ex: Jó 5.6; Salmo 24.2; 103.10; Provérbio 6.2

- Paralelismo Antitético: quando a idéia da 2a linha é contrária à da 1a. Ex: Salmo 37.21; Provérbio 14.13

- Paralelismo Sintético, construtivo ou epitético: quando a 2a linha vai além da 1a, completando ou explicando-a. Ex: Salmo 14.2;
O paralelismo pode ser correspondente, quando a 1a linha corresponde à 3a e a 2a à 4a. Ex: Salmo 27.1; ou pode ser cumulativo, quando apresenta uma série de idéias cumulativas e, algumas vezes, conduz a um clímax. Ex: Salmo 1.1; Isaías 55.6,7.

Tipos

As idéias básicas expressas por tipos e seus sinônimos são os conceitos de parecença, semelhança e similaridade.

Os tipos são parecidos com os símbolos e assemelham-se a estes. Os símbolos servem de sinais de algo que representam, sem necessariamente serem semelhantes em qualquer respeito. Já os tipos assemelham-se de uma ou mais forma às coisas que prefiguram. São prefigurações, por isso sempre apontam para o futuro e sempre precedem historicamente ao seu antítipo.

A tipologia busca o vínculo entre as pessoas, eventos históricos ou coisas dentro da história da salvação. Repousa sobre uma compreensão objetiva e da narrativa histórica, por isso não se assemelha a alegoria, Ex: João 3.14,15.

Os tipos contêm três características básicas: há um ponto notável de semelhança ou analogia entre o tipo e seu antítipo, Romanos 5.14-19 - Adão e Cristo; há evidência de que a coisa tipificada representa o tipo que Deus indicou, embora tal afirmação não precisa ser declarada formalmente; há a prefiguração de alguma coisa futura, Ex: o NT é o antítipo do AT.

Os tipos podem ser divididos em 5 classes:

1- Pessoas típicas: aquelas cujas vidas demonstram um importante princípio ou verdade da redenção, Ex: Romanos 5.14 - pecado/salvação;

2- Eventos típicos: possuem uma relação analógica com algum evento posterior. Ex: Mateus 2.17,18 nos dias de Raquel a matança dos filhos é uma tragédia local; Jeremias 31.15 nos dias de Jeremias é uma tragédia nacional; (o ponto em comum é a angústia demonstrada em face de uma perda pessoal e querida);

3- Instituições típicas: são práticas que prefiguram eventos posteriores da salvação, Ex: Levítico 17.11 com I Pedro 1.19 (o sangue dos cordeiros e o de Jesus Cristo);

4- Cargos ou ofícios típicos: Moisés como profeta e Cristo também; Melquisedeque como sacerdote
e Cristo também (Hebreus 5.6);

5- Ações típicas: são ações ou atitudes tomadas por pessoas que prefiguram algo que acontecerá, Ex: Marcos 14.22 Cristo comendo o pão e falando sobre o seu corpo na cruz.
Lúcia Izidoro

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